quarta-feira, 1 de abril de 2009
Vice-versa de abril
Uma tem um N no nome. A outra tem dois. Ana e Anna. Ana Terra teve um de seus títulos indicados ao Prêmio Açorianos de Literatura 2008, categoria livro infantil. Anna Claudia Ramos é presidente da AEILIJ. O que elas têm em comum? Ambas são escritoras e ilustradoras de LIJ. Leiam o bate-papo supergostoso que rolou entre elas.
Anna Claudia pergunta. Ana Terra responde.
Anna Claudia Ramos - Você sabe se a escolha do seu nome, Ana Terra, foi uma homenagem à personagem do escritor Érico Veríssimo, ou será que tem outro motivo especial?
Ana Terra - Minha mãe queria, por que queria Vinicius, se eu nascesse menino e de consolo deixou que meu pai escolhesse um nome para caso fosse um menina. Porém ela não se agradava de nenhum que ele escolhia, até que numa noite eles estavam vendo o jornal de notícias na televisão e apareceu uma repórter que se chamava Ana Terra, lembraram de imediato da personagem do livro de Érico e não tiveram dúvidas, quando nasci o médico perguntou “se for uma menina qual será o nome?” minha mãe respondeu Ana Terra e ele então disse que ela já poderia abraçar sua filha Ana.
ACR - Na sua história você consegue identificar uma pessoa que tenha sido decisiva no seu processo de formação leitora? tipo uma professora, alguém da sua família, um vizinho...
AT - Sim! Até porque eu não era uma leitora muito exemplar, eu tinha muita preguiça de ler, gostava dos livros com muitas ilustrações e poucas páginas! Foi quando, aos 10 anos, eu tive uma professora de Português que trabalhou os livros literários através de jogos dentro da sala de aula e mesmo assim, percebendo a minha resistência em ler os títulos que ela indicava, por conta do volume de texto que, pra mim, era assustador, ela me deu em mãos um livro da Lygia Bojunga Nunes afirmando que aquele eu iria gostar. Eu duvidei um pouco, mas quando comecei a ler o Casa da Madrinha eu só pensava em ler outro, mais outro e mais outro... Desde então eu não parei mais.
ACR - Você gostava de ler e desenhar quando criança? Ou só descobriu os livros mais tarde?
AT - Eu tinha muitos livros infantis em casa, eu os lia, mas como respondi na pergunta anterior, não era uma leitora fluente. Lia estes que eu tinha por serem ricos em ilustração. Agora desenhar... não tinha preguiça nenhuma! Até os meus cadernos, todos, sempre tiveram inúmeros rabiscos entre as matérias. Aos 13 anos eu até fiz uma tiragem caseira, impressa num computador de uma colega, de um livro que eu escrevi e ilustrei, um foi parar na biblioteca da escola que eu estudava e outros nas caixas que tínhamos dentro das salas para leitura, mas mesmo com este fato marcante, eu não levava a sério a vontade de fazer livros, achava que eu iria ser arquiteta. Só.
ACR - Quem veio primeiro: a contadora de histórias, a escritora ou a ilustradora? Conte um pouco da sua trajetória.
AT - Já nem sei mais... mas encarando como profissão foi a Contadora de Histórias. Eu já fazia teatro quando decide começar a contar as histórias que eu lia. A nove anos atrás não existia quase ninguém que fazia isso na cidade onde eu morava, apenas as bibliotecárias das escolas é quem trabalhavam com contação de histórias, então, por ser quase exclusividade, tive muitas respostas de imediato. Anos depois fui contratada pela Feira do Livro de Porto Alegre para ser contadora permanente de um espaço que já não existe mais, chamado Largo dos Ilustradores, lá eu descobri que ilustrar não era um bicho de sete cabeças, passado alguns anos surgiu a ilustradora Ana Terra, e mais outros se passaram para enfim nascer a escritora.
ACR - O que é mais gostoso: ilustrar um texto seu ou de outro autor?
AT - Fica difícil escolher. Ilustrar um texto meu é bom por que você acaba fazendo parte de toda criação, é impossível um ilustrador escrever sem pensar nas imagens, então quando você senta para ilustrar elas já estão todas lá saltitando na sua cabeça, já com o texto de outro escritor você acaba demorando mais, pelo menos é assim comigo, eu tenho que rabiscar, estudar, analisar um traço que enriqueça aquela história, tenho que torná-la orgânica, como um texto de teatro que você decora, decora, decora e depois ele flui naturalmente. Gostoso mesmo é ilustrar seja de quem for, eu adoro o que eu faço!
Ana Terra pergunta. Anna Claudia Ramos responde.
Ana Terra - Quando criança você chegou a querer ter um outro nome ou desde pequena já sabia que tinha o nome mais lindo de todos?
ACR - Olha, quando eu era menina eu ficava muito chateada quando em chamavam só de Claudia, ou de Claudinha, porque afinal, meu nome era Anna Claudia. Minha mãe e minha irmã também são Annas, Anna Elisa e Anna Beatriz, por isso queria ser chamada pelo meu nome completo, ou só de Anna, como elas eram chamadas. Mas hoje em dia adoro meu nome, mas sofri muito com essa história de nome duplo, porque dependendo de onde eu andava, eu era chamada de uma maneira diferente: Anna, Anninha, Claudia, Claudinha, Anna Claudia, Clau. É como se eu tivesse vários nomes, como se eu fosse vários personagens... Será que foi por isso que virei escritora? (risos)
AT - Se você pudesse ser a personagem de uma história, qual você escolheria?
ACR: Nossa! Que pergunta difícil!!! Não sei se saberia escolher apenas um. Porque quando criança eu queria muito ser a Emília e a Narizinho e morar no Sítio do Pica-pau Amarelo, do Monteiro Lobato; mas também desejei ser a fadinha Clara-Luz, da história A Fada que tinha idéias, da Fernanda Lopes de Almeida. Quando descobri os mitos gregos quis ser a deusa Atena. É que quando me identifico com uma personagem tenho vontade de estar com ela dentro do livro, compartilhando sua história.
AT - Quando você descobriu que queria fazer livros, o que você pegou primeiro: uma caneta para escrever alguma história ou um pincel para ilustrar?
ACR - Ah! com certeza peguei uma caneta. As histórias escritas chegaram primeiro na minha vida. Aliás, desde muita pequena elas já faziam parte da minha vida. Lembro que antes mesmo de eu saber ler e escrever eu ficava ditando histórias pra irmã. Ela escrevia tudo que eu inventava e depois fazia uns desenhos pra história. Eu achava tudo aquilo lindo! Essa lembrança andava esquecida, mas outro dia, fazendo uma organização na minha papelada achei uma dessas histórias. Fiquei bem contente, porque essas coisas todas fazem parte da nossa história, da nossa bagagem inventiva.
AT - Como você prefere trabalhar, num dia ensolarado ou chuvoso? Quente ou frio? De dia ou de noite? Com uma roupa qualquer ou bem embonecada?
ACR - Prefiro trabalhar num dia que não esteja fazendo um calor daqueles de "rachar os miolos", sabe? Adoro outono, quando os dias têm sol, mas não faz aquele calor excessivo. Também gosto do dias frios, as idéias fluem melhor. Mas você me pergunta se prefiro trabalhar de dia ou de noite. De dia. Sempre. De preferência de manhãzinha. Com raríssimas exceções trabalho de noite ou de madrugada. Mas nunca embonecada. Adoro trabalhar com “roupa de ficar em casa”, sabe? bem à vontade.
AT - O que você acha que enriquece mais o trabalho de um autor, os prêmios oferecidos por instituições ou fundações ou os sorrisos e o carinho oferecido por seus leitores?
ACR - Com certeza os sorrisos e o carinho oferecido pelos leitores, porque são sinceros. Claro que prêmios são importantes porque nos dão visibilidade no mercado de trabalho. Mas prêmios, status, sucesso, isso tudo é passageiro. Ao passo que o carinho dos leitores que você conquista ao longo da sua trajetória, da sua vida, é pra sempre, porque você consegue tocar na alma das pessoas e deixar um pouco de você com esse leitor, assim como trazemos dentro de nós um pouco dos escritores que amamos, não é mesmo?
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