
Dois escritores que residem em Porto Alegre trocam ideias sobre o fazer literário. Christian David iniciou sua ´carreira literária com financiamento do Fumproarte e, com seu segundo título, Mão dupla, integra o catálogo de Bolonha. Jacira Fagundes, além de ter dois títulos publicados para crianças, publica para adultos e ministra oficinas de criação literária.
Christian pergunta. Jacira responde.
Christian David - Tens algum ritual para começar a escrever? Algum local exclusivo, hora do dia, roupa especial?
Jacira Fagundes - Não costumo me prender a um ritual. Isto depende muito do meu tempo relacionado às demais atividades. Mas geralmente escrevo à tarde e à noite, diretamente no computador.

CD - Escrever para ti é uma decisão ou uma compulsão? Problema ou solução? Trabalho ou diversão?
JF - Já foi uma compulsão mal direcionada, hoje é uma decisão bem assumida. O ato de escrever, encaro como atividade decorrente do meu trabalho de escritora. Como escrevo, além da literatura infanto-juvenil, contos e novelas direcionados ao leitor em geral, e ainda textos para jornal cultural, estou sempre envolvida em escrita. Escrevo diariamente, mas também me divirto muito, principalmente com textos para crianças.
CD - Utilizas muito da tua vivência de criança e adolescente nos textos ou partes mais da observação das crianças e jovens de hoje?
JF - Em geral vou compondo ao longo do tempo e registrando aqui e ali, experiências infantis vividas na casa paterna e na casa da minha avó, principalmente. Não as uso integralmente; é um porão da avó que aparece no ambiente, ou uma fala do pai que coloco no personagem, nada além disto, ou o gosto de uma comida feita pela minha mãe.

CD - E o que a Jacira leitora busca na leitura de um livro infantil ou juvenil? O que mais te chama a atenção?
JF - O inusitado, a exploração do imaginário, o texto envolvente, o novo olhar que o autor se permite e me permite como leitora.
CD - Qual teu próximo projeto?
JF - Estou com um livro de contos no prelo intitulado No limite dos sentidos saindo talvez para agosto. São 22 contos para o leitor adulto. Para o leitor infanto-juvenil estou escrevendo uma pequena novela que se chamará Mania de Gavetas, sobre uma menina que tem uma compulsão por bisbilhotar gavetas alheias. No projeto, estou entrevistando pré-adolescentes e me surpreendendo com os possíveis e incríveis objetos que residem nas gavetas dos guardados dos pequenos.
Jacira pergunta. Christian responde.
Jacira Fagundes - O que te levou à preferência na tua criação literária por obras direcionadas ao público infanto-juvenil? Que tipo de leitura te serviu de experiência?
Christian David - A preferência saiu meio ao natural, não pensava em escrever especificamente para jovens, mas, durante o processo de criação, o texto acabava ficando com aquele "jeitão" de texto juvenil, coisa boa de acontecer, gosto de escrever pra esse público.
Li todas as possibilidades de gibis quando era adolesc

JF - Como te ocorreu a ideia pela primeira vez? Como foi a decisão por um tema? Quais foram tuas apreensões na época?
CD - Comecei escrevendo sem grandes pretensões, não pensava em ser escritor. Só comecei a levar a sério quando recebi o financiamento do Fumproarte. Daí fiquei preocupado com que o produto final ficasse bom, e acho que dentro das minhas possibilidades e conhecimentos na época meu primeiro livro ficou bem bacana.
JF - Como tem sido atualmente? Tens algum tipo ou tema recorrente? O que chega primeiro - o tema ou os personagens? Ou ambos? Ou não dá para definir?
CD - Tenho mais idéias do que consigo colocar no papel, e isso, as vezes, é um problema. Escrevo sobre aquilo que me move, que me toca ou preocupa, ou, no caso das minhas aventuras fantásticas, sobre histórias que eu gostaria que existissem. Geralmente o que aparece primeiro é o personagem e sua vida interior, o resto vai se formando ao redor.
JF - Antes de compor a história constróis algum projeto em linha gerais? ou em detalhes? Ou a história vai se construindo na medida da criação do texto? Como é este processo? calmo? com horários previamente estabelecidos? conturbado?
CD - Não tenho um processo específico ou definido, anoto as idéias para não esquecê-las e quando começo a escrever já sei aonde quero chegar.
JF - Durante o processo de criação, com que sentimentos convives mais fortemente? Prazer, diversão, ansiedade, dor? Teus personagens costumam invadir teu tempo real além do ficcional? Como gerencias estes momentos?
CD - A angústia e a ansiedade estão presentes, mas, geralmente, antes de começar a escrever; quando coloco as palavras no papel me divirto de verdade. Acho que separo bem a ficção da realidade, mas alguns personagens teimam em soltar frases na minha cabeça durante o dia, nos mais variados momentos. Daí é hora de escrever.
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