Encerrou ontem o Seminário AEILIJ na 55ª Feira do Livro de Porto Alegre. Foram três dias de trabalho intenso, a começar pela Homenagem póstuma à Maria Dinorah, realizada pelos escritores Jacira Fagundes, Marô Barbieri e Celso Sisto, da AEILIJ/RS, além dos alunos Arthur, Júlia, Raíssa, Pedro, Maria Luiza, Natáliae Yan, coordenados pela Gisele, Coordenadora Pedagógica do Colégio Estadual Leopoldo Tiethbol, seguida da palestra de abertura do escritor Ignácio de Loyola Brandão. Ignácio, com seu jeito informal e divertido, seduziu a todos contando passagens de sua infância em sala de aula e de como seus professores o estimularam a enveredar na carreira de escritor.
No decorrer dos dias 03 e 04 aconteceram duas mesas-redondas com debates muito profícuos.
No dia 03. das 9:30 às 12:00. Parafraseando extrato de O pequeno príncipe, Celso Sisto, Annete Baldi, Anna Claudia Ramos e Beloni Bágio falaram sobre o que é essencial e invisível aos olhos na Literatura Infantil e Juvenil. Annete Baldi, editora da Projeto, referiu-se aos sinônimos da palavra essencial e como ela, na função de editora, atenta para reuni-los no momento de pensar novos títulos que virão integrar o catálogo de sua Editora. Afirmou que o texto tem que lhe causar a sensação de ser indispensável ao leitor, ou provocar-lhe estranhamento, fazê-lo rir ou chorar, além de reunir qualidade de conteúdo aliado à forma, entre outras.
Celso Sisto, escritor, ilustrador e contador de histórias, reportou-se ao assunto pelo viés poético, comparado o bom texto à essência do perfume, que tem alma e notas que podem e devem surpreender ao olfato. Celso disponibilizará o texto especialmente produzido para esta mesa, no qual aborda o assunto comparando a paixão de estimular a prática de leitura ao ato do perfumista,
aqui, em seu blogue. Beloni Bágio, diretora do Tiethbol, falou de sua experiência como diretora de escola, da necessidade de um trabalho de equipe para selecionar e estimular que os alunos encontrem essa essência, por vezes visível, ora invisível ao olhos. Além disso, destacou a importância de agregar à família nesse percurso descobrir o mundo e a si mesmo nas páginas de um bom livro. Anna Claudia Ramos, escritora, ilustradora e presidente da AEILIJ, finalizou as falas inspiradoras indagando-se, e à platéia, se não devemos desviar o olhar para com o educador e redirecioná-lo, buscando na infância o que é essencial ao leitor. Exemplificou, trazendo à sua fala lembranças de uma Anna menina e tudo que lhe fora essencial para que se tornasse a leitora ávida e apaixonada por livros.
Logo em seguida, abrimos o debate para a platéia. E o tempo foi curto para tantas e acalouradas manifestações.
Já no dia 04, a mesa-redonda Que tipo de leitor estamos formando?, reuniu Sérgio Alves, Paula Mastroberti, Beth Baldi e Eliana Martins. Sérgio, editor da Escala Educacional e Larousse Jr., abriu os debates suscitando inúmeras outras interrogações, a começar: Que tipo de cidadão estamos formando? Quem são os leitores no Brasil, hoje, frente à intensa e ampla produção editorial? Reportou-se à evolução no campo da imagem para os livros infantis. Referiu-se a uma suposta geração fast-book, alucinada frente à enorme oferta, estimulando-nos a pensar se nesse afã do consumo formamos leitores capazes de descobrir o prazer numa simples frase. Beth Baldi, diretora da Escola Projeto, destacou as diversas modalidades do trabalho com leitura realizado na escola, que absorve 1/3 de todo o programa curricular com o objetivo maior de socializar e capacitar esse leitor iniciante a fim de que ele possa se independizar em suas escolhas literárias. Destacou a importância do professor mediador de leitura, bem como o acesso à biblioteca de forma prazerosa. A ilustradora e escritora Paula Mastroberti nos falou de que estamos à frente um leitor de mundo, não somente de livros. Um leitor autônomo que, hoje, com o acesso à Internet, tornou-se um leitor interagente, que se manifesta, se impõe, e que isso por vezes pode nos assustar, pois este leitor tem maior domínio sobre ferramentas com as quais as gerações anteriores ao advento tecnológico tem dificuldade de se familiarizar. "Trata-se de um leitor que recuperou para o si o direito de se expressar". Em seguida, finalizamos as falas com a escritora Eliana Martins que nos trouxe algumas resposta de oficinandos com os quais trabalhou e a quem dirigiu a seguinte pergunta: Quando a literatura mexe com sua cabeça? Uma das respostas mais curiosas e instigantes foi "...mexe com minha cabeça porque são máscaras, e nesse sentido muito parecida com a vida...". Eliana recordo que antes de ser uma entusiasta leitora, consumidora voraz de leituras de livros, tornou-se uma escritora entusiasta.
Feitas as provocações, o microfone foi aberto à plateia. A ilustradora e diretora cultural da AEILIJ, Marília Pirillo, destacou que, entre s tantas ofertas no dia-a-dia - como a música, que nos chega voluntariamente ao ouvido; as imagens dispostas no cotidiano; a televisão, que necessita apenas um clique no controle remoto - diferentemente do livro, não requerem um movimento, um esforço em direção à descoberta e essa aproximação ao livro necessita, sim, de um estímulo apaixonado. E novamente o tempo foi escasso para assuntos que deveriam ser permanentes entre os bate-papos de todos os dias, de todos os cidadãos, independente de em qual área atuem.
Nas tardes do dia 03 e do dia 04 aconteceram as oficinas com Maurício Veneza, Kátia Canton, Caio Riter e Gloria Kirinus. Em breve postarei relatos dos oficinandos sobre esse trabalho que não pude acompanhar individualmente, haja visto as inúmeras atividades na 55ª Feira do Livro.
O encerramento do Seminário AEILIJ - Por um espaço especial para a literatura na escola, regado por farto coquetel oferecido pela Editora Edelbra, antecedeu à fala emocionada do escritor e patrono da 55ª Feira do Livro de Porto Alegre, Carlos Ubim. Ao lembrar de sua infãncia, Carlos Urbim leu texto de Mario Quintana, publicado no livro A vaca e o hipogrifo. Depois, levou a plateia ao deleite ao lembrar de seu encontro com a poetisa uruguaia, nascida em Melo, Juana de Ibarbouru. Quem não chorou a olhos vistos, certamente reteve as lágrimas para dentro.
Obrigado a todos que participaram, apoiaram, colaboraram para o sucesso do seminário. Já estamos trabalhando para o próximo, haja visto o sucesso deste primeiro!
Em breve, fotos!