segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Vice-versa de dezembro

Nosso Vice-versa de final de ano é com duas profissionais bastante dedicadas na área de LIJ. A escritora e produtora cultural Marô Barbieri bate um papo com escritora e ilustradora Marilia Pirillo. E vice-versa.

Marília pergunta. Marô responde.

Marília Pirillo - Marô, conta um pouco como a literatura infantil entrou na sua vida e tomou conta dela. Dá pra colocar uma ordem nos acontecimentos? A leitora se tornou professora e depois a contadora de histórias virou escritora?

Marô Barbieri - A literatura sempre fez parte da minha vida desde as leituras de criança até a escolha do curso de Letras para formação acadêmica. O livro sempre me acompanhou (aliás, quando casei, meu marido e eu não tínhamos quase nada, mas tínhamos um monte de livros!). Dá para ver, portanto, que a leitura foi sempre uma paixão, além de obrigação profissional.
A literatura infantil entrou na minha vida quando fiz um projeto de introdução à literatura nas séries iniciais do I Grau, no colégio João XXIII, e fui trabalhar com as turmas de 1ª a 4ª série. No processo de implantação do projeto fui conhecendo melhor a produção literária para crianças e as características de cada faixa etária já que eu atendia dezesseis turmas por semana (quatro por série), sempre com uma proposta de leitura e atividades lúdico-criativas.
Neste contato, percebi que podia ser uma boa contadora de histórias. Da contação à escrita foi um passo rápido. Por que não documentar a criação oral? Mas como a passagem não é tão fácil assim, meu texto foi amadurecendo com o tempo e com a percepção de que um trabalho cuidadoso com a palavra é que distingue o verdadeiro escritor.
Portanto, de fato, a professora se tornou contadora (atividade que também desenvolvo atualmente) que se tornou escritora.

MP - O contato constante com crianças e com professores contribui de alguma forma no seu processo criativo como escritora?

M - Há, naturalmente, alguma relação. Procuro trabalhar nos dois eixos: contato com a criança (em escolas, em feiras e em quaisquer espaços culturais direcionados ao público infantil) e interação com professores (em oficinas, cursos, palestras e eventos pedagógico/culturais). Isso me permite uma observação ampla e diversificada dos interesses dos dois grupos. Então ficam na memória pedaços de conversa, uma frase ou outra ouvida no meio das brincadeiras, a voz de uma sugestão, um gesto ou olhar especiais.
Mas não é isso que vai pesar na hora de elaborar o texto. Acredito que cada autor – como qualquer artista - precisa ser criativo e, principalmente, original na escolha de seu universo ficcional. Cabe a ele desenvolver-se criativamente, aproveitando as oportunidades oferecidas pela convivência, mas não dependendo delas.


MP - Na sua opinião, a contação de histórias é um instrumento eficiente na promoção do livro, da literatura e na formação de público leitor?

M - Sem dúvida a contação de histórias pode ser um meio potencializador de formação de leitores. A relação com o livro pode ser criada pela contação. Para isso é preciso que a história contada seja a interpretação oral de um texto de livro ou até a reprodução memorizada do texto escolhido.
A contação é uma atividade oral, mas – se apoiada em texto escrito – abre a janela para o texto, aproxima, interessa e cativa o ouvinte para o contato com o texto gerador. E deste para todos os próximos que virão.

MP - Além de escrever você se ocupa com a edição, distribuição e comercialização de seus próprios livros, ou seja, acompanha a obra do início até o destino final, os leitores. Quais as vantagens e desvantagens de estar ligada a esse processo?

M - Como a relação entre escritor/editora não é muito equilibrada, quer dizer, como o autor recebe um percentual muito pequeno na venda do livro, resolvi assumir o compromisso de publicar meus próprios textos. Não sem antes passá-los por uma comissão editorial que me assegura sua qualidade. O trabalho é árduo, mas compensador. Um exemplo: como circulo muito nos espaços escolares e culturais, a divulgação e a distribuição – que são dificuldades sérias na comercialização – se fazem naturalmente.
Claro, não é fácil ser editora, financiadora, divulgadora, telefonista, empacotadora e ainda realizar uma boa performance nos encontros autora/leitores, mas quando se faz o que se gosta, tudo se torna viável. E o retorno financeiro é muito compensador.

MP - Envolvida em mil e uma atividades como associações, oficinas, fóruns, encontros e rodas de leitura, com certeza você tem material suficiente para a publicação de um livro sobre qualidade, incentivo e dinamização da leitura de literatura infantil e juvenil nas escolas. Este projeto já existe?

M - Não. Justamente por estar envolvida e comprometida com a promoção da leitura e da literatura em variados espaços, não me sobra tempo para escrever senão texto literário.
Mas não digo que seja impossível. Tenho um projeto com uma amiga francesa que prevê o relato de atividades de leitura feitas no Brasil e na França, acrescidos de reflexões teóricas sobre as práticas relatadas. Só não sei para quando...

Marô pergunta. Marilia responde.

Marô Barbieri - A gente se conheceu em Porto Alegre, há algum tempo atrás. Você ilustrou dois dos meus livros e sempre fui fã de seu trabalho. Morar no Rio, atualmente, faz diferença em sua vida profissional? Em quê? Por quê?

MP - Minha mudança para o Rio de Janeiro ocorreu por motivos profissionais. Novas oportunidades e a possibilidade de, depois de muitos anos trabalhando com ilustração publicitária, poder me dedicar exclusivamente à literatura, como sempre desejei, acenavam para mim. Hoje, morando no Rio, tenho a chance de participar de eventos, encontros, oficinas e cursos de literatura. Entre eles a oficina literária ministrada pela Anna Cláudia Ramos, atual presidente da AEI-LIJ, mestre e amigona. Essa oficina em especial tem sido uma aprendizagem muito rica e estimulante, um marco na minha carreira.

M - Dentro ou fora da ilustração, que atividade você ainda não fez e gostaria de fazer?

MP - Em ilustração já fiz muita coisa, em diferentes estilos e para diversos fins, mas ainda quero fazer muito mais. Só que, agora, somente para os livros. Atualmente estou empolgada em desenvolver os meus projetos, onde escrevo e ilustro buscando sempre a melhor maneira de contar as minhas histórias.

M - Você é – também – escritora. Seu “Baratinada”, da editora Biruta, é um ótimo livro, com texto ágil e divertido. O fato de ter ilustrado tantos textos colaborou para que você tivesse vontade de escrever? Ou é uma idéia antiga finalmente posta em prática?

MP - Sempre tive vontade de escrever e sempre escrevi muito, mas nunca tive coragem de mostrar o que escrevia. Na escola e na faculdade (cursei Publicidade e Propaganda na PUC) sempre fui elogiada pelas minhas produções textuais, mas eu não me achava capaz de escrever literatura de boa qualidade. E acho que ainda não era mesmo (risos). Tenho pastas e pastas com textos amarelados, todos cuidadosamente engavetados. Foi aqui no Rio que comecei a estudar para escrever de maneira séria: fiz curso de roteiro, história da arte, estudei literatura, crítica literária, literatura infantil e me enfiei em todas as oficinas de LIJ que apareciam. "Baratinada", meu primeiro juvenil, nasceu de um exercício feito em uma dessas oficinas.

M - Soube que você esteve na Itália – terra de artistas magníficos – fazendo um curso de aperfeiçoamento. Houve mudanças em seu trabalho depois disso?

MP: Em julho de 2007 estive em Sármede, participando de dois cursos de ilustração para livros infantis. Foi maravilhoso ficar 8 horas por dia mergulhada em desenhos e pinturas, experimentando, observando, aprendendo e criando, sem prazos nem qualquer outro compromisso da vida rotineira interferindo no processo. Aprendi muito lá! E a principal mudança no meu trabalho, depois de Sármede, foi um certo "relaxamento" em relação ao que anteriormente eu consideraria um "erro". Hoje arrisco mais, busco novos materiais, novos efeitos, deixo as coisas acontecerem e tiro proveito dos acasos. E assim, sinto muito mais prazer ao ilustrar.

M - Todos temos planos para o futuro e eu tenho por hábito brindar com os amigos, dizendo: “Ás coisas boas que vão nos acontecer!”. Quais são algumas das coisas boas que vão lhe acontecer?

MP - Adorei esse brinde! Vou usar em todas as festas de final de ano (risos). Bem, o que vai acontecer... eu vou aprender muito, vou escrever muito e ilustrar muito mais!E depois eu vou mostrar tudo isso para milhares de leitores, nos vários livros que irei publicar (risos). Tem muito livro na minha cabeça pedindo passagem.Só preciso de saúde e do tempo que o futuro vai me dar.

Um comentário:

Tânia Alexandre Martinelli disse...

Olá Hermes! Tudo bem? Fiz um blog e coloquei o link do AEI-LIJ - RS lá, se der coloque o meu aqui também! Dê uma passadinha lá para ver as novidades (inclusive as fotos de Poa)!
Beijo,
Tânia.