sábado, 3 de agosto de 2013

AEILIJ traz o prazer de um novo VICE-VERSA







Duas novas associadas abrem o vice-versa neste 2º semestre - Martina Schreiner e Liza Petiz. Seria entrevista entre duas ilustradoras, não fosse uma delas, também escritora.
Martina  está na estrada já de algum tempo. Designer, projetista, escritora e ilustradora de livros de própria autoria e de outros tantos.
Liza  vem conquistando espaço  no campo da ilustração na literatura infantil e juvenil. Não mais uma promessa, ela vem se reinventando com  muito profissionalismo.


Vejamos o que esta dupla de profissionais tem a nos dizer de seus trabalhos e de suas trajetórias artísticas.









 
 Martina pergunta. Liza responde.


Martina - Ilustrar é um sonho antigo ou uma descoberta recente? Como surgiu, na tua vida, a vontade de ilustrar? E como essa vontade virou realidade?
Liza - Sou filha de um artista plástico e convivi com as Artes Plásticas desde criança, portanto sempre fui apaixonada pela imagem. Decidi trabalhar com arte educação e dividir com as crianças a magia que as imagens despertam em mim. Neste momento comecei a pesquisar a literatura infantil e descobri este universo maravilhoso, passando a usar a ilustração como referência nas minhas aulas.  Criar imagens, ilustrações, foi um sonho que comecei a cultivar há dez anos, mas só em 2011 coloquei as minhas ideias em prática e iniciei o meu trabalho como ilustradora.  Meu sonho virou realidade com a publicação do livro Assombros Juvenis, do qual participei junto com outras quatro autoras. Esta oportunidade foi muito importante e me deu segurança para começar uma nova carreira. Atualmente divido meu tempo como professora, coordenadora pedagógica de Educação Infantil e ilustradora.
 
 
Martina - O contato com as crianças em sala de aula influencia teu trabalho como ilustradora? Como?
Liza - O contato diário com as crianças me renova sempre, alimenta o meu olhar sobre o cotidiano, o senso de humor e com certeza influencia o meu trabalho como ilustradora. Procuro criar imagens que sejam diretas, simples e coloridas, assim como são os desenhos dos meus alunos. Observar as suas criações espontâneas e recheadas de criatividade é a minha maior inspiração. Algumas vezes troco ideias com as crianças a respeito do que desejo criar, eles me dão dicas e me ajudam a refletir sobre o que é essencial na imagem.
 
 
Martina - E no caminho inverso, teu trabalho como ilustradora influencia o trabalho como professora? Como?
 
Liza - Também interfere e de forma muito positiva, primeiro porque a literatura é  base do meu trabalho. Toda vez que compro um livro novo, levo para a sala de aula e mostro para as crianças. Procuro mostrar a elas o universo variado, em termos de imagem e texto que encontramos hoje; oferecendo referências que fujam aos estereótipos, propagandas e personagens da televisão. E depois, a minha pesquisa com a ilustração e a minha parte leitora, me tornam uma pessoa mais sensível, aberta e motivada a compartilhar com os alunos um mundo em que tudo é possível e que alimenta os nossos sonhos e desejos, que é a literatura como um todo.
 
Martina - Tu costumas usar bastante colagem e um mixe de materiais. Como funciona o teu processo de trabalho? Como tu escolhes a técnica, de onde surgem tuas ideias?
Liza - Acredito que minha técnica será sempre mista, pois gosto das texturas, dos relevos, de riscar em cima da tinta, sobrepor figuras e materiais. A colagem também é uma opção que me permite brincar com a composição até chegar ao resultado final.
As minhas ideias vem do universo infantil que faz parte do meu dia a dia e também das artes plásticas. Gosto muito de ilustrações com cores suaves e monocromáticas, mas quando começo a elaborar minhas imagens, as cores gritam. Não consigo fugir do colorido, dos contrastes, o que remete a artistas do cubismo e impressionismo, que me encantam demais.
 
 
Martina - Se aparecesse uma fada madrinha ou uma lâmpada mágica e te oferecessem o trabalho dos teus sonhos, como ele seria?
 
Liza  – As histórias que mais me dão prazer acontecem em cenário medieval, então me realizaria ilustrando uma história com castelos, princesas, reis, dragões, elementos fantásticos que são os meus favoritos até hoje. Venho pensando muito em fazer um livro com texto e imagem criados por mim, esse no momento é o meu maior sonho.
 


  Liza pergunta. Martina responde.
 Liza - Em que momento da tua vida tomaste a decisão de ser ilustradora e por quê?
Martina - Pois eu sempre digo que virar ilustradora aconteceu meio por acaso. Eu estava insatisfeita com o meu trabalho como publicitária. Então resolvi resgatar o prazer no desenho, que havia sido o grande motivador da minha escolha profissional, e que parecia perdido no meio de tantos trabalhos publicitários descartáveis.
Numa dessas experiências eu e uma amiga acabamos fazendo um protótipo de um livro infantil. Eu não fazia a menor ideia de como o mercado editorial funcionava, mas resolvemos arriscar. Enviamos o trabalho para várias editoras e, depois de várias experiências frustradas, fui chamada para ilustrar o meu primeiro livro.
 
 
 
Liza - Por que a escolha pela literatura infantil?
 
Martina - Eu sempre fui uma ávida leitora de literatura infantil, mesmo depois de adulta. Mas talvez o  fato de eu ser designer tenha contribuído nessa escolha, já que os livros para crianças são um espaço onde se pode exercitar com muita liberdade a comunicação e expressão visual.     
 
 


 
Liza - De onde vem tua inspiração, tuas referências para ilustrar?
 
Martina - Eu acho que as ideias estão no ar, nós só precisamos encontrar. Para ter inspiração basta prestar atenção, estar aberto ao que o mundo nos conta e mostra. São infinitas as possibilidades.
A questão das referências é um pouco mais complexa. Eu gosto de deixar a memória estabelecer as regras. Mas sabe como é, não podemos confiar cegamente na memória, ela nos prega peças. Então eu prego peças na memória: busco referências aleatórias, coleto coisas sem nenhuma ligação com a história, pra fundir com o que eu já tenho e quebrar a imagem pré-concebida da qual quero me descolar.
Tem alguns casos em que eu faço uma pesquisa iconográfica de fotos ou objetos. Por exemplo, em “O Rei roncador”, eu usei vários baralhos diferentes como modelos, para, a partir deles, definir os personagens. Mas isso pra mim não é referência, é modelo mesmo.
 
 
 
Liza - Nos teus trabalhos como escritora e ilustradora, o que vem primeiro, a imagem ou o texto?
 
Martina - O processo criativo é um tanto caótico e nunca funciona de forma linear, pelo menos pra mim. Em “O botão branco” surgiu primeiro uma imagem. Eu tenho a mania de antropomorfizar coisas. Fico procurando bocas, olhos e narizes em maçanetas, torneiras, ferramentas e outros objetos. Numa dessas brincadeiras, transformei um botão em uma carinha sorridente, publiquei a foto no meu blog e considerei a ideia encerrada. A história só foi surgir muito tempo depois. Já no “O rei roncador”, o texto surgiu primeiro, e só depois de tê-lo pronto comecei a desenhar. De qualquer forma, meu processo de criação é muito visual, e, mesmo que o texto surja antes de tudo, inevitavelmente aparecem imagens na minha cabeça enquanto eu escrevo.
 
 
 
Liza - Tu te dedicas integralmente como autora ou desenvolves outras atividades profissionais? Como é a tua organização/rotina de trabalho?
Martina - Eu trabalho em casa. Meu despertador toca todos os dias às 7h30. Levanto, faço café, leio jornal, respondo emails e resolvo todas as pequenas pendências do dia, para poder trabalhar mais tranquila depois.
Tento me disciplinar para ter um final de expediente, parar de trabalhar no final da tarde, mas isso é bem difícil. Com frequência desobedeço “as minhas próprias ordens” e acabo trabalhando até tarde da noite ou em finais de semana.
Além de ilustrar, eu trabalho como designer. Faço projetos gráficos e editoração. Também faço ainda alguns trabalhos de comunicação institucional. Claro, eu sonho em poder me dedicar exclusivamente aos livros em algum momento, mas isso só o futuro poderá responder.
 
 
 
 
 



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