Duas novas associadas abrem o vice-versa neste 2º semestre - Martina Schreiner e Liza Petiz. Seria entrevista entre duas ilustradoras, não fosse uma delas, também escritora.
Martina está na estrada já de algum tempo. Designer, projetista, escritora e
ilustradora de livros de própria autoria e de outros tantos.
Liza vem
conquistando espaço no campo da
ilustração na literatura infantil e juvenil. Não mais uma promessa, ela vem se reinventando
com muito profissionalismo.
Vejamos o
que esta dupla de profissionais tem a nos dizer de seus trabalhos e de suas
trajetórias artísticas.
Martina pergunta.
Liza responde.
Martina - Ilustrar é um sonho antigo ou uma descoberta recente? Como surgiu, na tua vida, a vontade de ilustrar? E como essa vontade virou realidade?
Liza - Sou
filha de um artista plástico e convivi com as Artes Plásticas desde criança,
portanto sempre fui apaixonada pela imagem. Decidi trabalhar com arte educação
e dividir com as crianças a magia que as imagens despertam em mim. Neste
momento comecei a pesquisar a literatura infantil e descobri este universo
maravilhoso, passando a usar a ilustração como referência nas minhas
aulas. Criar imagens, ilustrações, foi
um sonho que comecei a cultivar há dez anos, mas só em 2011 coloquei as minhas
ideias em prática e iniciei o meu trabalho como ilustradora. Meu sonho virou realidade com a publicação do
livro Assombros Juvenis, do qual participei junto com outras quatro autoras.
Esta oportunidade foi muito importante e me deu segurança para começar uma nova
carreira. Atualmente divido meu tempo como professora, coordenadora pedagógica
de Educação Infantil e ilustradora.
Martina - O
contato com as crianças em sala de aula influencia teu trabalho como
ilustradora? Como?
Liza - O
contato diário com as crianças me renova sempre, alimenta o meu olhar sobre o
cotidiano, o senso de humor e com certeza influencia o meu trabalho como
ilustradora. Procuro criar imagens que sejam diretas, simples e coloridas,
assim como são os desenhos dos meus alunos. Observar as suas criações
espontâneas e recheadas de criatividade é a minha maior inspiração. Algumas
vezes troco ideias com as crianças a respeito do que desejo criar, eles me dão
dicas e me ajudam a refletir sobre o que é essencial na imagem.
Martina - E no caminho inverso, teu trabalho como
ilustradora influencia o trabalho como professora? Como?
Liza - Também
interfere e de forma muito positiva, primeiro porque a literatura é base do meu trabalho. Toda vez que compro um livro
novo, levo para a sala de aula e mostro para as crianças. Procuro mostrar a
elas o universo variado, em termos de imagem e texto que encontramos hoje; oferecendo
referências que fujam aos estereótipos, propagandas e personagens da televisão.
E depois, a minha pesquisa com a ilustração e a minha parte leitora, me tornam
uma pessoa mais sensível, aberta e motivada a compartilhar com os alunos um
mundo em que tudo é possível e que alimenta os nossos sonhos e desejos, que é a
literatura como um todo.
Martina - Tu
costumas usar bastante colagem e um mixe de materiais. Como funciona o teu
processo de trabalho? Como tu escolhes a técnica, de onde surgem tuas ideias?
Liza - Acredito
que minha técnica será sempre mista, pois gosto das texturas, dos relevos, de riscar
em cima da tinta, sobrepor figuras e materiais. A colagem também é uma opção
que me permite brincar com a composição até chegar ao resultado final.
As minhas ideias vem do universo infantil que faz parte
do meu dia a dia e também das artes plásticas. Gosto muito de ilustrações com
cores suaves e monocromáticas, mas quando começo a elaborar minhas imagens, as
cores gritam. Não consigo fugir do colorido, dos contrastes, o que remete a
artistas do cubismo e impressionismo, que me encantam demais.
Martina - Se aparecesse uma fada madrinha ou uma lâmpada
mágica e te oferecessem o trabalho dos teus sonhos, como ele seria?
Liza – As histórias que mais me
dão prazer acontecem em cenário medieval, então me realizaria ilustrando uma
história com castelos, princesas, reis, dragões, elementos fantásticos que são
os meus favoritos até hoje. Venho pensando muito em fazer um livro com texto e
imagem criados por mim, esse no momento é o meu maior sonho.
Liza pergunta. Martina responde.
Martina - Pois eu sempre digo que virar ilustradora
aconteceu meio por acaso. Eu estava insatisfeita com o meu trabalho como
publicitária. Então resolvi resgatar o prazer no desenho, que havia sido o
grande motivador da minha escolha profissional, e que parecia perdido no meio
de tantos trabalhos publicitários descartáveis.
Numa dessas experiências eu e
uma amiga acabamos fazendo um protótipo de um livro infantil. Eu não fazia a
menor ideia de como o mercado editorial funcionava, mas resolvemos arriscar.
Enviamos o trabalho para várias editoras e, depois de várias experiências
frustradas, fui chamada para ilustrar o meu primeiro livro.
Liza - Por que a escolha pela literatura infantil?
Martina - Eu sempre fui uma ávida leitora de literatura
infantil, mesmo depois de adulta. Mas talvez o
fato de eu ser designer tenha contribuído nessa escolha, já que os
livros para crianças são um espaço onde se pode exercitar com muita liberdade a
comunicação e expressão visual.
Liza - De onde vem tua inspiração, tuas referências para
ilustrar?
Martina - Eu acho que as ideias estão no ar, nós só
precisamos encontrar. Para ter inspiração basta prestar atenção, estar aberto
ao que o mundo nos conta e mostra. São infinitas as possibilidades.
A questão
das referências é um pouco mais complexa. Eu gosto de deixar a memória
estabelecer as regras. Mas sabe como é, não podemos confiar cegamente na
memória, ela nos prega peças. Então eu prego peças na memória: busco
referências aleatórias, coleto coisas sem nenhuma ligação com a história, pra
fundir com o que eu já tenho e quebrar a imagem pré-concebida da qual quero me
descolar.
Tem
alguns casos em que eu faço uma pesquisa iconográfica de fotos ou objetos. Por
exemplo, em “O Rei roncador”, eu usei vários baralhos diferentes como modelos, para,
a partir deles, definir os personagens. Mas isso pra mim não é referência, é
modelo mesmo.
Liza - Nos teus trabalhos como escritora e ilustradora,
o que vem primeiro, a imagem ou o texto?
Martina - O processo criativo é um tanto caótico e nunca
funciona de forma linear, pelo menos pra mim. Em “O botão branco” surgiu
primeiro uma imagem. Eu tenho a mania de antropomorfizar coisas. Fico
procurando bocas, olhos e narizes em maçanetas, torneiras, ferramentas e outros
objetos. Numa dessas brincadeiras, transformei um botão em uma carinha
sorridente, publiquei a foto no meu blog e considerei a ideia encerrada. A
história só foi surgir muito tempo depois. Já no “O rei roncador”, o texto
surgiu primeiro, e só depois de tê-lo pronto comecei a desenhar. De qualquer
forma, meu processo de criação é muito visual, e, mesmo que o texto surja antes
de tudo, inevitavelmente aparecem imagens na minha cabeça enquanto eu escrevo.
Liza - Tu te dedicas integralmente como autora ou
desenvolves outras atividades profissionais? Como é a tua organização/rotina de
trabalho?
Martina - Eu trabalho em casa. Meu despertador toca todos
os dias às 7h30. Levanto, faço café, leio jornal, respondo emails e resolvo
todas as pequenas pendências do dia, para poder trabalhar mais tranquila
depois.
Tento me
disciplinar para ter um final de expediente, parar de trabalhar no final da
tarde, mas isso é bem difícil. Com frequência desobedeço “as minhas próprias
ordens” e acabo trabalhando até tarde da noite ou em finais de semana.
Além de
ilustrar, eu trabalho como designer. Faço projetos gráficos e editoração.
Também faço ainda alguns trabalhos de comunicação institucional. Claro, eu
sonho em poder me dedicar exclusivamente aos livros em algum momento, mas isso
só o futuro poderá responder.
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